sexta-feira, 20 de março de 2009

O Papa, a África e a Sida

Cerca de 22 milhões de pessoas estão infectadas na África Subsaariana, onde morrem três quartos das vítimas de sida no mundo inteiro – lê-se num telegrama da Lusa. Há muito que se conhece a tragédia que o desgraçado continente sofre. Conhecem-se milhões de infectados, as crianças órfãs e outras epidemias que dizimam países com fome, doenças, ditaduras e corrupção, que se encarregam de tornar infelizes os que aí nasceram.
Para Bento 16, 22 milhões de miseráveis não passam de almas que aguardam baptismo e o bilhete para o Paraíso, mas para quem não tem empedernido o coração pela fé, para quem sente alguma solidariedade com a dor, para quem desespera com o sofrimento, não pode tolerar-lhe que despreze a distribuição de preservativos como medida acertada.
Por mais frio e insensível que a sotaina o tenha tornado, por mais ódio que a castidade lhe tenha instilado, por maior cegueira a que as leituras pias o tenham conduzido, não pode dizer às pessoas condenadas para não se protegerem e aos jovens enamorados para praticarem a castidade.
A viagem de um dignitário religioso que a propaganda se encarrega de apresentar como sábio e a ignorância tribal de acreditar como bondoso, em vez de ajudar à melhoria dos níveis sanitários, contribui para aumentar a mortalidade.
Não sei em que consiste a terapêutica prescrita pelo autocrata: “um despertar espiritual e humano” e a “amizade pelos que sofrem”. Sei que a distribuição de preservativos é – contrariamente à mentira que afirma – a solução mais comprovada cientificamente e a de resultados mais sólidos na contenção da dramática epidemia.
Assassino não é apenas aquele que dispara a arma para causar a morte, é também o que usa a ignorância para impedir a vida.
carlos esperança in ponteuropa.blogspot.com

Igreja promove loucura homofóbica


A ILGA Portugal, associação de defesa dos direitos dos homossexuais, acusou em Dezembro último a Igreja Católica de estar "possuída por uma espécie de loucura homofóbica". Em causa estão as recentes declarações do Papa Bento XVI que disse que salvar a humanidade do comportamento homossexual ou transexual é tão importante quanto salvar as florestas.
"É lamentável que numa altura em que as pessoas se juntam, o Natal, para não se atacarem umas às outras e para não se discriminarem umas às outras e para não se separarem umas das outras, que um homem se reúna com os seus colaboradores e que tenha aquela ideia exclusiva na cabeça. É lamentável. Acho que há coisas muito mais importantes que afligem a humanidade do que aquilo que duas pessoas do mesmo género fazem ou não fazem na cama", defendeu o dirigente da ILGA, José Ribeiro, em declarações à Agência Lusa.
O Papa afirmou que o desprezo pela ordem da Criação, assente na união entre sexos opostos, configura "a destruição da própria obra de Deus", responsabilizando pelo crescimento da homossexualidade a teoria segundo a qual os papéis e a identidade de género não são atribuídos pela Natureza, mas pela socialização. Segundo Bento XVI, a Igreja Católica, "não deve apenas defender a terra, a água e o ar, mas também tem de salvar o homem da sua própria destruição", que seria causada pela homossexualidade.O dirigente da ILGA sublinhou que a Igreja está "possuída por uma espécie de loucura homofóbica". "Há pouco tempo, na ONU, a França apresentou, com mais 65 países, um processo de descriminalização e despenalização da homossexualidade e o Vaticano recusou-se a apoiar. É lamentável, mas é um problema da Igreja e é um problema que a Igreja tem de resolver. Ela está possuída por uma espécie de loucura homofóbica que não lhe dá nada, pelo contrário, só afasta as pessoas dela", rematou José Ribeiro.

Rage Against The Machine - Testify Music Video

Manu Chao - mano negra -"Mala Vida"

¡EL PUEBLO UNIDO JAMÁS SERÁ VENCIDO!

A luta livre e a luta pela LIBERDADE

É mesmo um espanto a incapacidade selectiva de indignação face à verdade e às "verdades" que, em consequência, se fabricam para geração de rendimentos execrandos.
De facto, a verdade que assim se revela, indica que no que é essencial nada mudou. A verdade vivida, de facto, por quem foi forçado a viver nas masmorras da DISA[1] demonstra que o MPLA não venceu nem o fascismo nem o colonialismo e que, ao contrário, os exacerbou naquilo que de mais mau foram. Ou será que o regime que se seguiu ao do poder colonial português em Angola era uma democracia sob a batuta dos assassinos e torturadores da DISA que continuam impunes? Ou será que um regime que, nos dias que correm, enxota para lá do horizonte da cidade,do estado e dos seus serviços os mais pobres e mais excluídos dos musseques para construir condomínios para outros mais cidadãos é uma negação do colonialismo? É o endocolonialismo, apressado, bruto, que de novo nos acorda para a necessidade de libertação. É a forma mais aviltante de dominação de tipo colonial, a opressão de tipo colonial pelo próprio compatriota concretizado por um "desenvolvimento dual" que, obviamente, está a gerar um apartheid social, cultural, político e económico. Só os fabricantes de cegueiras políticas (co)produtoras de ditaduras não enxergam a realidade objectiva angolana nos dias que correm.
Louçã e o Bloco de Esquerda foram os únicos que assumiram a postura certa, demonstrando sem ambiguidade que não têm cifrões no lugar dos olhos. Têm olhos que vêem Angola e os angolanos com solidariedade para com o povo em vez de para com os seus predadores. Não deram boleia política aos que, em Portugal e Angola, consubstanciam uma aliança predadora da nossa existência.
Há gente com olhos que, obviamente, vêem o que não há e que ao mesmo tempo são cegos para verem o que tresanda a podridão por baixo dos seus narizes entupidos por alguma forma de rendimentos.
O normal, agora, seria que, quem a faz alarde da sua honestidade, manifestasse a indignação mais profunda face à cosa dos tarzans tabordas que representam os papéis principais na farsa "democrática" que vem sendo encenada em Angola, com a parceria de "democratas" portugueses, protagonistas duma política de salvação da sua barriga, ameaçada de fome e pela pobreza que a crise internacional está a engendrar, sem se importarem com os efeitos dessa estratégia na vida das angolanas e angolanos excluídos dos benefícios desse empreendimento. Além de não se indignarem atacam quem, de forma frontal aberta e livre, não só lhes recusa cumplicidade mas, acima de tudo, o faz de forma que contesta o saque a que Angola está a ser submetida novamente.
O MPLA está sim, de facto, a restaurar uma dominação de tipo colonial em Angola com o recurso a métodos do fascismo potenciados pela aplicação da escola ditatorial dos seus agentes à "democratização" com que travesti a sua natureza exclusivista no concernente à posse e exercício do poder.
Que tenha presente que as causas justas, a prazo, são sempre vencedoras e que os cúmplices europeus, "democratas", que hoje arregimenta, ("reconciliado"/vergado), serão os primeiros a deixa-lo cair. Aliás, ao longo da história, essa tem sido a regra constante do jogo entre piratas.
Luiz Araújo
Activista Cívico
in esquerda.net

Carga policial deixa 57 feridos em Barcelona

Quatro meses depois, a ocupação da Universidade de Barcelona chegou ao fim com a entrada da polícia para desalojar os estudantes em protesto contra o Plano de Bolonha. Seguiram-se violentas cargas policiais no centro da cidade contra as manifestações de solidariedade. Veja aqui alguns vídeos das cargas policiais.

O dia de quarta-feira ficou marcado pela violência policial em Barcelona. A retirada à força, a pedido do reitor, de cinquenta estudantes que ocupavam a reitoria da Universidade desde Novembro, deu origem a enfrentamentos no centro da cidade.Após terem carregado sobre os estudantes na reitoria na madrugada de quarta-feira, a reacção estudantil regressou à porta da universidade, onde a polícia voltou a carregar e a cortar os acessos ao local. O protesto seguiu pelas ruas de Barcelona, com nova carga policial em frente ao Departamento das Universidades, cujo responsável apoiou a decisão do reitor. À hora de almoço já havia vários feridos, mas todos estavam longe de prever o descontrolo a que se assistiria mais tarde.A manifestação de solidariedade marcada para a tarde juntou 5000 estudantes na Praça da Universidade, que desfilaram pelas Ramblas. Ao dirigirem-se à praça onde se situam as sedes do governo e da autarquia, os manifestantes eram esperados pela polícia de choque. Um encontro que se repetiria várias vezes no centro de Barcelona, com os "Mossos d'Esquadra" a perseguirem os estudantes pelas ruelas do centro da cidade ao cair da noite.A violência indiscriminada usada pela polícia foi classificada na imprensa espanhola como "nervosismo" e "descontrolo", provocados pela tensão que desde manhã afectou os agentes. As bastonadas não atingiram apenas os estudantes, mas também alguns transeuntes que pediam à polícia. Ao todo, 57 pessoas ficaram feridas, incluindo estudantes, jornalistas e polícias.
Esta quinta-feira, a Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa do Colégio de Advogados de Barcelona e a Federação de Associações de Moradores de Barcelona denunciaram publicamente a "violência extrema, própria de outras épocas e intolerável num sistema democrático".
Na semana passada, dezenas de milhares de estudantes saíram às ruas de várias cidades espanholas em protesto contra a directiva de Bolonha, que pretende uniformizar o ensino superior em toda a Europa. O movimento ganhou força desde Novembro, com ocupações de faculdades e manifestações a marcarem a oposição estudantil a uma política que reduzirá o financiamento público das universidades e inevitavelmente estrangulará os cursos considerados "não-rentáveis", nomeadamente na área das Letras e Ciências Humanas.
in esquerda.net

Barcelona: Condenação geral da brutalidade policial sobre estudantes

A violência utilizada pelas forças policiais para reprimir os estudantes da Universidade de Barcelona que protestavam contra o processo de Bolonha foi duramente criticada na Catalunha. O próprio governo regional e a reitoria da Universidade, que pediu a intervenção policial, criticaram os excessos da polícia, dos quais resultaram 81 feridos.

O balanço final dos confrontos em Barcelona entre a polícia e os estudantes em protesto contra o processo de Bolonha aponta para 81 pessoas feridas, incluindo 35 agentes policiais, 30 jornalistas, vários estudantes e transeuntes que circulavam no centro da cidade na altura dos distúrbios.Após os incidentes, o membro do governo catalão com a tutela das polícias considerou ter havido "erros" na intervenção policial, disponibilizando-se a apresentar explicações no parlamento catalão e a abrir um inquérito à actuação dos Mossos d'Esquadra, o nome porque é conhecida a polícia da Catalunha.A reitoria da Universidade de Barcelona, que havia solicitado a intervenção policial para desalojar os estudantes que ocupavam há quatro meses um edifício universitário, também considerou a actuação da polícia "desproporcionada".De igual modo, o Sindicato de Jornalistas da Catalunha, o Conselho Nacional da Juventude da Catalunha e outras organizações da sociedade catalã foram unânimes em considerar "desproporcionada" a intervenção da polícia. Os jornalistas convocaram para esta sexta feira uma manifestação de protesto contra as agressões policiais.Também os Mossos d'Esquadra comentaram o assunto em declarações oficiais, considerando "proporcionada" a sua actuação, tendo em conta a "extrema violência" utilizada por "grupos radicais perfeitamente organizados".Os protestos dos estudantes catalães contra o processo de Bolonha arrastam-se há longos meses, sob diversas formas, havendo mesmo um aluno em greve de fome há 26 dias.
in esquerda.net

Imigrantes não-europeus altamente qualificados mais do que duplicaram em Portugal

Segundo dados do Ministério da Administração Interna, o número de cidadãos estrangeiros oriundos de fora do espaço europeu e com altos níveis de qualificações mais do que duplicou em 2008 em relação ao ano anterior. O Brasil é o principal país de proveniência dos 533 imigrantes altamente qualificados que chegaram a Portugal no ano passado.

533 cidadãos com elevadas qualificações e oriundos de países não-europeus chegaram a Portugal em 2008, o que representa o dobro do número registado em 2007, de acordo com dados disponibilizados pelo Ministério da Administração Interna.O principal país de origem destes imigrantes foi o Brasil, com quase metade das pessoas deste grupo (223), seguido da China (39), Índia (34) e Estados Unidos (24).Entre as actividades a que se dedicam estes imigrantes, encontra-se a gestão de empresas, profissões médicas e para-médicas, técnicos de informática, profissionais liberais, docência universitária ou investigação científica.
in esquerda.net

domingo, 15 de março de 2009

Entrevista ao refusenik israelita que usa o teatro-fórum para combater a ocupação

Chen Alon tem 31 anos, é israelita e vive em Telavive. Educado num ambiente sionista e encorajado desde pequeno a servir o Exército, assim o fez durante anos, até se tornar um refusenik. No passado, cumpriu ordens cruéis: cercar aldeias, prender crianças, reprimir manifestações. Hoje, é um activista político contra a ocupação e, com um grupo de israelitas e palestinianos, usa o arsenal do Teatro do Oprimido[1] para alargar o seu movimento, promover a discussão e incitar os israelitas a experimentarem o que é estar no papel do outro, do "inimigo"
.Entrevista de José Soeiro, em Barcelona, Abril de 2007.
Na associação de que faz parte, "Courage to Refuse", os israelitas dizem que amam o seu país e que até estão dispostos a combater por ele. Mas consideram que a campanha militar e a ocupação dos Territórios Palestinianos é ilegal, imoral e inútil. Chen faz parte do movimento refusenik e foi um dos dinamizadores da carta pública lançada por militares israelitas em que se recusam a servir o exército violando as fronteiras de 1967, em acções que só servem, como escreveram, para "dominar, expulsar, condenar à fome e humilhar um povo inteiro" e que, sendo acções de "ocupação e opressão", não servem sequer o alegado propósito de defesa de Israel. A carta, assinada por mais de 600 soldados, abalou a sociedade israelita e teve um impacto importante no processo eleitoral de Janeiro de 2003, num momento em que a direita política defensora das acções militares ganhava peso. Nessa altura, a campanha que levou a cabo com os seus companheiros refuseniks foi considerada por alguns como o mais importante elemento de renascimento da esquerda em Israel. Visto como traidor pelo Estado, Chen teve já de cumprir penas de prisão militar. Actualmente, a estratégia do Exército passa menos por reprimir e mais por enviá-los para outro tipo de missões. Mas Chen prossegue o seu activismo, usando o Teatro do Oprimido como arma de denúncia da situação. Trabalhando do "lado dos opressores", ele encena situações concretas passadas nos checkpoints e incita os israelitas a colocarem-se no lugar dos palestinianos e a experimentarem, ainda que por momentos, o que é estar no papel do outro.
Chen esteve no mês passado em Barcelona, num encontro de activistas teatrais. Foi aí que o encontrei, que tive oportunidade de o entrevistar e de conhecer melhor este homem que acredita na paz mas não na passividade.
Estiveste a servir no Exército como toda a gente em Israel. Qual foi o significado desta experiência para ti?
O significado de servir no Exército só pode ser percebido se compreendermos que há um serviço militar obrigatório que força todos os homens e as mulheres israelitas a servirem no Exército. O mito é que o Estado de Israel está rodeado por inimigos e que se cada um de nós não mostrar solidariedade na questão da segurança, se não partilharmos todos o mesmo risco na defesa de Israel, não sobreviveremos. Portanto, nunca foi questionável para mim estar no Exército. Eu queria muito, tinha muita vontade de o fazer, como praticamente todos os homens e mulheres em Israel. Mas o primeiro encontro que tu tens e onde começas a ficar céptico em relação a isso é quando duas coisas acontecem. Uma é quando te deparas com a violência severa. Eu servi durante a Primeira Intifada, em 1987 e é muito difícil. Aí tu apercebes-te que não é possível justificar realmente as acções que acontecem, a ocupação, mesmo que se assuma - e eu não assumo isso - que existe uma justificação que é a segurança de Israel, percebes que isso não pode ser atingido através da humilhação de 3 milhões e meio de pessoas. Mesmo sendo verdade que Israel deve ter o direito de se defender, isso não pode ser feito oprimindo 3,5 milhões de pessoas. É muito importante perceber que a ocupação não é um conceito, são milhares de acções concretas, como invadir casas, prender milhares de pessoas, como os checkpoints, como impedir as pessoas de terem cuidados médicos, de acederem a direitos humanos básicos, como terem água. Se é isto que significa servir a segurança de Israel, então eu não tenho nenhuma vontade de participar nisso, na humilhação de gente inocente. Aquilo a que nós chamamos "terroristas" e a que eles chamam "lutadores pela liberdade" não são toda a população, são muito poucas pessoas, e esta punição colectiva é uma coisa totalmente imoral.
E podes explicar como é que surgiu este movimento refusenik?
Começou, na prática, desde a Cimeira de Camp David, quando Ehud Barak e Yasser Arafat regressaram aos seus povos e disseram: "não conseguimos alcançar a paz, vamos ter de viver em guerra". Muitos soldados, muitas pessoas em Israel disseram "se os nossos líderes não estão dispostos a pagar um preço, a devolver os Territórios aos palestinianos, se eles não estão dispostos a ser responsáveis enquanto líderes, nós vamos ter de encontrar uma solução, há de certeza uma solução". Mas se eles chegam aqui e dizem que a única solução é continuar a humilhar estas pessoas, que nós temos de continuar lá, a morrer e matar como soldados, porque eles são incapazes de encontrar uma saída, então nós sentimos que se eles, que são os líderes, não conseguem arranjar uma solução, nós não tomaríamos mais a responsabilidade por essa decisão deles. Nós pensamos: "eu não vou partilhar a responsabilidade contigo se tu não consegues arranjar uma solução, agora é a tua responsabilidade!". Portanto, em Janeiro de 2002, 50 de entre nós organizamo-nos muito rapidamente, pessoas que se conheciam do Exército, do campus universitário de Telavive, pessoas que nós sabíamos, de boca a boca, que estavam descontentes, que não queriam mais servir o Exército ali, e escrevemos aquela petição[2]. Era óbvio que bastava publicá-la no jornal e que as pessoas já estavam prontas. Fizemos um site na Internet, com alguns números de telefone. Durante duas semanas recebemos imensos telefonemas. Quisemos falar pessoalmente com cada pessoa antes dela assinar. Encontramo-nos pessoalmente com cada pessoa, ouvimos as histórias, perguntamos por que se queriam juntar a nós, se estavam dispostas a pagar o preço de irem presas...
Qual é a relação entre os refuseniks e a resistência palestiniana?
No princípio não tínhamos relações nenhumas, nós nem sequer dávamos entrevistas aos media internacionais, queríamos dirigir a nossa mensagem apenas aos israelitas, dizendo: "o que nós estamos a fazer é criminoso, é muito mau, temos de mudar". Mas passados dois anos, quando a nossa pressão começou a ser muito eficiente na sociedade israelita e Sharon decidiu o plano da retirada da Faixa de Gaza, então percebemos que isso resultava. Mas as pessoas da direita começaram também a recusar servir o Exército na retirada de Gaza, porque diziam que se os esquerdistas se recusam a servir na ocupação, eles também recusavam servir na retirada... Mas muito poucos recusaram... Após o plano de retirada, a nossa estratégia mudou, consideramos que tínhamos atingido tudo o que podíamos usando esta forma de activismo e que na verdade o Exército estava a usar uma estratégia muito inteligente contra nós, eles mandavam os soldados que eram pró-paz ou potencialmente refuseniks e punham-nos noutros sítios. E sabemos o que aconteceu no Líbano no Verão passado, tu vais para uma guerra injustificada e que tu não podes ganhar...
Nós mantemo-nos activos mas mudamos a estratégia, para uma colaboração com movimentos palestinianos que estão na mesma posição que nós, pessoas que eram terroristas ou lutadores pela liberdade (dependendo de quem os define...), que estiveram vários anos na prisão e que neste momento mudaram a sua actuação, como nós, e não fazem mais acções de luta violenta, que acham que o caminho não é participar na violência das suas sociedades e que querem manter a luta e colaborar com aliados do outro lado, do "lado dos opressores", como nós, que somos traidores para os dois lados. Nós criamos esse contacto de forma bastante secreta, porque não queríamos que se soubesse antes de estarmos preparados. Todos eles estiveram vários anos na cadeia, em prisões israelitas, falam hebreu muito bem, e decidimos colaborar num movimento activista com gente dos dois lados, Israel e Palestina, que iria trabalhar em círculos restritos, cada grupo trabalharia nas duas sociedades, às vezes eu vou lá com os palestinianos, outras fazemos coisas cá.
De quantas pessoas estamos a falar?
Cerca de uma centena de cada lado... Sabes, nós temos algumas regras dentro do nosso grupo. A primeira é que tudo é feito em ambas as línguas. O movimento está sempre a acolher e a chamar novas pessoas. Em cada reunião temos um espaço para as novas pessoas, uma espécie de ritual em que começamos com uma história de violência de ambos os lados. Uma pessoa de cada lado levanta-se e inicia a sessão contando uma história pessoal de violência que viveu. Isso cria um sentimento de que a base deste grupo é a violência e como combatê-la.
Mas contra a violência institucionalizada de um Estado ocupante sobre um povo, não é legítimo usar a violência?
Essa é a questão principal que nos colocamos...
Porque não é equivalente...
Não, não é equivalente. Nós dizemos sempre isso, que não estamos a falar de uma situação em que haja equilíbrio. Claro que não estamos numa situação igual. Eles estão sob uma ocupação. E é por isso que a declaração do grupo não é de que estamos a criar a paz entre um lado e outro, de que estamos a construir um futuro melhor e essas coisas. Não. Nós estamos a lutar em conjunto, de uma forma não-violenta, para pôr um fim à terrível ocupação. Não é dizendo que há equilíbrio, que há igualdade, não, não estamos a fechar os olhos à realidade e a dizer: "tu não serás mais violento, nós também não seremos", não é nada disso. O que somos é um conjunto de pessoas traumatizadas pela violência. Nós sabemos que a violência só traz mais violência. Esta é a conclusão a que chegamos. Isto não quer dizer que os palestinianos não têm direito de se sublevarem e de lutarem contra a ocupação. Mas o que este conjunto de pessoas diz é que, para o lado a que cada um pertence, a violência só gera mais violência.
Mas temos de definir o que é violência... Todos concordamos - acho que tu também concordas - que entrar numa escola e matar não sei quantas pessoas não é legítimo. Mas se estiveres a atirar pedras a um tanque que quer entrar em tua casa, provavelmente isso não é violência... Ou lutar contra os soldados armados... O que nós tentamos fazer é definir os limites, aquela linha a partir da qual nós não queremos ir, de ambos os lados. Porque nós não somos pacifistas, mesmo os israelitas dizem que um Exército que proteja as pessoas, se é que existe, não é violência... (mas nós ainda não vimos um exército assim...). Por princípio, nós dizemos que não somos pacifistas, que cada lado tem o direito de se defender. Não estamos neutralizados, nós lutamos, às vezes com os nossos corpos, contra o Muro... Não se trata de dizer que agora a luta é espiritual ou assim, não. Mas a violência é algo que se tornou realmente uma loucura nas nossas sociedades, sabes?... Explodir numa escola ou matar crianças numa manifestação, matá-las a sangue frio... É realmente uma loucura... Numa operação com um alvo muito específico, por exemplo para "matar um terrorista", e depois matar muita gente com esse pretexto, é um crime. Por isso nós tentamos perceber quais são os limites, o que é que é legítimo na luta. E não queremos impor esses limites a ninguém. Não queremos dizer à outra parte "pronto, vocês podem atirar pedras, mas não podem explodir-se na nossa cidade". Não. A ideia é criar um novo discurso e um novo ambiente.
Por que é que começaste a usar o teatro, e o teatro-fórum em particular?
Comecei a usá-lo, desde logo, porque venho do teatro, estava ligado ao teatro convencional. E não conseguia lidar mais com esta divisão, de ser por um lado um activista, por outro lado um actor. Por isso decidi juntá-las e quando conheci o Boal, as suas técnicas, percebi que há uma boa forma de unir as duas coisas. Como disse o Sanjoy hoje de forma muito bonita: não se trata de um teatro político mas de fazer teatro como política. Percebi que era muito útil usar o Teatro do Oprimido, especialmente na nossa região e no nosso contexto e utilizá-lo para assuntos específicos que são relevantes para nós.
Quando tu permites que as personagens dos soldados sejam substituídas, o objectivo é criar alguma forma de empatia?[3]
Não, não. Já me acusaram disso. Mas a ideia de permitir sobretudo os israelitas substituírem os soldados é criar uma consciência e um espaço para que as intervenções alarguem o movimento refusenik. Às vezes é um acto que as pessoas sentem que são obrigadas a fazer. Não é uma situação convencional opressor-oprimido. Muitos de nós não queremos estar lá. Eu sei que quando vou, na vida real, representar o papel de soldado israelita, eu vou porque tenho de ir. Mas não, não temos de ir. E lá, no cenário, na peça, tens de sentir isso. E ter-me a mim como curinga, que fiz isso, e talvez no público estejam outras pessoas que também são refuseniks, e dizermos ao opressor que pode desobedecer, que não tem de desempenhar aquele papel. Que pode recusar estando ali no teatro, mas que podem recusar antes de entrar na cena, podem pedir ao seu comandante para recusar também, têm muitas opções.
Quando os israelitas substituem as personagens palestinianas, tu achas que isso pode mudar alguma coisa?
Sim, muda. Cria empatia, que é um coisa positiva. As pessoas quando odeiam estão completamente cegas. As pessoas não conseguem imaginar o que é estar oito horas num checkpoint. E na peça, ficam lá durante dez minutos e ficam malucas, começam a ficar enfurecidas, a dizer que não têm tempo... Portanto acho que é muito útil. As pessoas conhecem as situações que nós representamos, os dois lados conhecem aquelas situações. Os israelitas e os palestinianos estão imersos em situações de conflito a todo o momento, nos checkpoints, em Jerusalém oriental e ocidental... Na verdade, nós não estamos apenas separados, há lugares em que estamos separados pelo muro, mas há lugares em que estamos juntos, em que somos apanhados bem no meio do conflito. São esses momentos que nós representamos.
[1] O Teatro do Oprimido é um sistema de técnicas e jogos que pretendem democratizar os meios de produção teatral e usar a linguagem do teatro para a libertação. Partindo das vivências concretas dos grupos e populações com as quais se trabalha, o Teatro do Oprimido transforma os espectadores em espect-actores, agentes activos da transformação da sua realidade. Mais informação pode ser encontrada em www.theatreoftheoppressed.org.
[2] A petição pode ser lida em seruv.org.il.
[3] No teatro-fórum, as pessoas devem tomar apenas o lugar do oprimido e substiutuí-lo de modo a entrarem em conflito com o opressor. Ou seja, não faz sentido substituir o opressor, torná-lo num não-opressor, e resolver a situação através de uma solução mágica que não existe na realidade. No entanto, no caso da peça Viewpoints, de Chen Alon, que reproduz uma situação vivida num checkpoint, os espec-actores podiam substituir os soldados, uma vez que muitas vezes era com eles que o público se identificava, já que as sessões de teatro-fórum eram feitas em Israel para pessoas que já foram e serão novamente chamadas a cumprir aquele papel (potencialmente, toda a sociedade, uma vez que homens e mulheres têm serviço militar obrigatório e têm de servir o Exército todos os anos durante um mês).

Teatro do Oprimido - Entrevista com Augusto Boal


Augusto Boal é conhecido em todo o mundo como um actor e director de um teatro radical. Daqueles que vai ao fundo das coisas, que faz experiências, que não tem medo de transformar o estabelecido. E é conhecido também, principalmente, por ser o criador do chamado Teatro do Oprimido. A fama e o reconhecimento são atestados pelas dezenas de publicações internacionais e páginas na Internet que fazem referência a Boal, um dos convidados da 8ª Jornada de Literatura de Passo Fundo. Lá, ele apresentará uma de suas famosas aula-espetáculo. Nesta entrevista exclusiva ao Extra Classe, o diretor fala de censura, do comércio na arte, da sua experiência em teatro e do sucesso da sua última montagem, Carmen (em cartaz no Rio de Janeiro)
César Fraga
Extra Classe - O senhor estará presente na Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo com uma aula-espetáculo. O que vem a ser isto?
Augusto Boal - É uma coisa que faço muito na Europa e Estados Unidos e que tem dado bastante certo. É uma experiência bem divertida, tanto para mim como para o público. Nela eu tenho condições de externar a visão que tenho de teatro e de falar do Teatro do Oprimido por meio de factos reais, que ocorreram comigo ou que presenciei. É uma maneira de contar histórias, todas relacionadas com o ‘fazer teatro’. É o Augusto Boal imbuído da função de conferencista, utilizando o recurso teatral para se fazer entendido. De certa forma, é o homem utilizando a linguagem dramática para se fazer compreender.
EC - Além da sua participação na Jornada de Literatura, a temporada da ópera Carmen (de Bizet) é um sucesso no Rio de Janeiro. Como foi produzir um clássico depois de tantas experiências radicais?
Boal - O que nós fizemos foi manter fielmente as melodias e harmonias originais adaptadas para ritmos e instrumentos brasileiros, como o samba. O resultado, na minha opinião, ficou fantástico. Outra transformação fundamental é que a ópera tornou- se muito mais dramática do que lírica. E, com isso, foram suprimidos ou encurtados alguns trechos musicais. Bem, o resultado com o público foi sensacional e gostaríamos de mostrar isso para o resto do Brasil.
EC - O que é o Teatro do Oprimido?
Boal - Em si, o Teatro do Oprimido é um teatro sem dogmas e realizado por meio de um conjunto de exercícios que ensinam o ser humano a utilizar uma ferramenta que ele já possui e não sabe. O homem traz esta característica teatral dentro de si. O que este tipo de teatro faz é liberar esta capacidade e ensinar à pessoa como dominá-la.
EC - Esta ausência de dogmas o torna mais universal?
Boal - Universal não diria, mas possível de ser realizado em qualquer parte do planeta visto que em toda parte há seres humanos e também há opressão. Por isso, o Teatro do Oprimido, assim como a pedagogia, filosofia, psicoterapia e a política, pode ser praticado em culturas totalmente diferentes, tanto no Brasil como na África. Já existem grupos que o praticam na África, no Japão, em Hong Kong, na Coréia e em praticamente todos os países da Europa. A própria cultura brasileira é especialmente promissora para esta prática, já que não pode ser caracterizada como uma, mas na verdade milhares de culturas.
EC - E o que se quer dizer com esse teatro?
Boal - Não existe isso. O teatro do oprimido não tem uma mensagem específica. Nunca dizemos faça assim ou faça assado. É um método de descoberta do desejo e de ensaio de realização deste desejo.
EC - Como ele surgiu? Boal - Ele surgiu em São Paulo, no início dos anos 70. Em sua primeira forma chamava-se Teatro Jornal. Foi quando pela primeira vez eu trabalhei com um grupo no Núcleo 2 do Teatro de Arena. Era um espetáculo que ao mesmo tempo ensinava a fazer teatro a partir de jornal e que procurava dar ao espectador não um produto acabado, mas os meios de produção. Depois tive uma experiência na Argentina, com o Teatro Invisível, que é uma forma de utilizar o teatro dentro da realidade sem revelar que é teatro. Ou seja, os espectadores intervêm na cena como se ela fosse um fato real.
EC - Esta proposta de teatro lhe trouxe problemas com o regime militar logo em seguida. Como fica a relação do artista que se pretende manter consciente dentro de uma estrutura repressora? Boal - Só para situar, fui preso em 1971, logo no início do Teatro do Oprimido. Mas o que deve ser analisado não é o fato em si, mas como se dá esta relação. Quando se está inserido em uma estrutura convencional de teatro, a censura se dá de duas formas. Uma delas é a policial, característica do regime autoritário que o Brasil viveu a partir de 1964 até a Constituição de 1986. Bem, esta censura praticamente já não existe e quando surge é esporádica, um fato aqui ou ali. Aoutra forma existente, e esta é tão ruim quanto a outra, é aquela que se dá na forma da sedução.
EC - Como assim?
Boal - O sujeito te diz: se você fizer o que eu quero, ganha o dinheiro para fazer a produção. Se não fizer, não tem. Este, infelizmente, é o padrão de censura dominante no Brasil. É a coerção pelo poder econômico. São as empresas que determinam o que pode ser feito e o artista não está livre para fazer suas experiências, ele perdeu este direito.
EC - O governo chama isso de parceria, não é?
Boal - O governo chama desta forma, mas esta parceria não existe de fato. É mentira. Uma parceria de fato ocorre quando os parceiros possuem o mesmo objetivo e força semelhante. Quando um dos lados é o “todo poderoso” e ao outro não resta opção, fica difícil.
EC - O que é isso, então?
Boal - O que está ocorrendo no Brasil é a privatização da cultura. Os artistas correm atrás de quem quer patrocinar, este é o normal. Já o patrocinador encara a produção artística como parte de seu projeto de marketing. Ele nunca vai dar dinheiro para um projeto de dança, teatro, música, que não seja assemelhado aos produtos que ele vende, ou que compartilhe da mesma ideologia.
EC - Esta promiscuidade causada pela mercantilização da cultura, que resultados pode nos trazer a curto e longo prazo?
Boal - A conseqüência é que isso vai tornando a arte ascéptica, pouco a pouco transformando nossa cultura em matéria plástica, sem cor, sem cheiro, sem sabor e sem sentido. O que os patrocinadores geralmente querem é reproduzir um mundo velho, já conhecido e aprovado. Não se propõe nada. É o fim da arte.
EC - Se não é arte, como conceituar então este tipo de manifestação que já está bem arraigado no dia-a-dia das pessoas?
Boal - Não podemos confundir arte com artesanato. Este exemplo que eu dei está mais para a artesania, que é a reprodução de um mesmo modelo. Uma vez que estes pseudo-artistas trabalham para a reprodução do mundo que seus patrocinadores acham viável, e reprodução não é arte, está explicado. Além disso, existe uma ironia nisto tudo, que é o fato de muitas vezes se dar o status de artista às pessoas que perpetuam este tipo de reprodução a que me referi anteriormente, e se chamar de artesãos os artistas populares maravilhosos que realizam obras totalmente originais simplesmente por ser consideradas folclóricas. Mas, só para não fugir do assunto, queria dizer que a curto, médio ou longo prazo, a pior conseqüência deste processo é o da esterilização da arte por meio da reprodução de modelos já consagrados pelo marketing.
EC - Existe perspectiva para o teatro no Brasil?
Boal - É claro que sim. A gente sempre fica sabendo de grupos que, mesmo sem auxílio da iniciativa privada ou verbas públicas, realizam trabalhos com perspectiva semelhante à do Teatro do Oprimido. Está certo que muitas vezes são estruturas amadoras, mas o importante é que se faça para que haja alguma espécie de resistência a este modelo imposto pela globalização. Ela sempre pressupõe que cultura tem de dar lucro.
EC - E não deve dar lucro?
Boal - Este pressuposto é dos neoliberais. A cultura, assim como os bombeiros e os hospitais, tem de ser subsidiada. Senão, a gente vai acabar como aquelas freiras em Viena, na Áustria, que matavam os pacientes terminais em um hospital por julgarem que eles seriam deficitários do ponto de vista econômico. Existem atividades que são deficitárias por natureza e precisam de subvenção. O teatro que dá lucro é aquele que é ancorado por uma estrela ou vedete de televisão, e que geralmente está dentro de uma norma de sucesso em que tudo gira em torno da estrela. Este teatro geralmente dá muito dinheiro. Mas é preciso que se garanta condições para que certas experiências, fora destes padrões, possam ser desenvolvidas sem esta preocupação.
EC - O que está ocorrendo não seria uma transferência do raciocínio neoliberal e globalizante para a cultura?
Boal - É evidente que esta mentalidade se instituiu no meio. Assim como é evidente que o lucro proporcionado pela arte se dá de outra forma. Por exemplo: se você enriquecer um produção teatral expondo a platéia a estímulos plásticos, estará enriquecendo a forma de pensar do espectador e conseqüentemente gerando um lucro. Mas um lucro de crescimento humano, de um valor muito difícil de ser medido já que não se trata de uma mercadoria vulgar. Neste caso, não se trata de um lucro financeiro, mas humano. Este lucro existe em qualquer atividade verdadeiramente artística, em que a estética tem esta capacidade de alargar a capacidade de percepção do seres humanos. A arte faz o homem mais rico, mas não de dinheiro.
EC - Então o êxito comercial desses espetáculos, digamos alternativos, já é limitado por natureza?
Boal - As chances destes espetáculos obterem sucesso pelo Brasil afora são reduzidas muito mais pela concentração da mídia no eixo Rio e São Paulo do que por sua qualidade. O público das demais localidades é muito influenciado pelos gostos e padrões reproduzidos por esta cultura televisiva. Temos basicamente dois pólos centralizadores da informação e da produção em televisão. Você não vê em rede nacional o evento de Passo Fundo ou de Manaus. É como se não existisse nada ao sul de São Paulo ou ao norte do Rio de Janeiro. Não se vê elencos do Rio Grande do Sul ou do Amazonas na telinha. O que se vê são actores que vêm para Rio e São Paulo e fazem carreira. É muito difícil até mesmo repercutir peças de autores que não sejam destes dois centros.
EC - O senhor poderia antecipar algumas das histórias que vai contar em Passo Fundo para nossos leitores? Boal - De forma alguma. Perderia a graça (risos). Só mesmo lá para saberem do que eu estou falando.
in Extra Classe 1999

O Teatro Político de Antonin Artaud


É possível falar em um teatro político de Artaud? Teatro metafísico, teatro alquímico, teatro da crueldade, são definições que o próprio autor propõe, na tentativa de definir e fazer entender suas propostas. Mas, teatro político?
Artaud quer uma revolução, quer mudanças sociais radicais. O teatro para Artaud é um meio para que estas mudanças aconteçam. Erroneamente, suas propostas são muitas vezes entendidas desconectadas de sua visão social e política. Ele, todavia, não tem em vista fins sociológicos imediatistas, nem propostas político-partidárias. Aliás, este foi um dos principais motivos de seu rompimento com os surrealistas quando estes aderiram ao comunismo .
Artaud “tem consciência dos problemas suscitados pela reificação dos homens e da nítida situação de exploração reproduzida, dia após dia pela máquina capitalista. Tem consciência dos problemas sociais-políticos e econômicos de seu tempo” (FELÍCIO, 1996: 115). Artaud não mergulha em sua insanidade em uma busca mística desconectado da realidade que o cerca. Analisando o capitalismo, reconhece que este não consiste apenas em um modo de produção material, “mas em um modo de produzir a vida” . Por outro lado, se posiciona também contra o comunismo e o critica por que acredita que este se ocupa das mesmas questões que o capitalismo, apenas propondo a transferência do poder da burguesia para o proletariado, atendo-se à produção material, ao desenvolvimento técnico com fins de melhoria das condições materiais da vida, atingindo assim “apenas as aparências superficiais” .
A revolução artaudiana quer explodir os fundamentos do mundo moderno, subverter pela raiz os hábitos de pensamento atuais e, em suas palavras, “descentrar o fundamento actual das coisas” .
Constatando a decadência da sociedade ocidental, nas suas idéias, costumes e valores, propõe uma “revolução inútil”, que não atinge o imediato, mas que trabalha no âmbito virtual, questionando e minando os valores reinantes. Vera Lúcia Felício destaca isto ao afirmar que:
“Se o teatro é o meio escolhido por Artaud, é por que ele crê ser o único meio que age diretamente sobre a consciência das pessoas, portanto, um instrumento ativo e enérgico, capaz de revolucionar a ordem social existente. (...) O Teatro da Crueldade só pode crer numa revolução que atinja destrutivamente a ordem e a hierarquia dos valores tradicionalmente aceitos como absolutos”.
A subversão destes valores é fundamental para Artaud. Ele reconhece que a confusão e a ruptura fragmentam o indivíduo e a sociedade. Por isto acredita que a revolução precisa ocorrer “pela cultura, na cultura”.
No prefácio de O teatro e seu duplo, ele reflete sobre a cultura contrapondo duas diferentes formas de compreendê-la. Uma, dominante na sociedade ocidental, coloca a cultura como algo separado da vida, como um sistema de conhecimentos, informações, instrução. Esta visão de cultura traz consigo uma noção elitista e dualista – o culto e o inculto – a idéia da “aquisição” de cultura que remete a uma desconexão. “Como se de um lado estivesse a cultura e do outro a vida; e como se a verdadeira cultura não fosse um meio refinado de compreender e exercer a vida” .
Em oposição a esta “idolatria da cultura”, ele apresenta a idéia da “cultura em acção”, que se torna no homem como que um novo órgão, uma espécie de segundo espírito e que rege as ações mais sutis, o espírito presente nas coisas. Artaud acredita na existência de forças latentes capazes de se manifestarem pelo totemismo que o Ocidente não mais considera. Esta cultura é a autêntica, segundo ele, e as relaciona com os manas (que surgem pela identificação mágica). A cultura funde-se com a vida e a vida com a cultura, promovendo a integração do ser humano. Assim, a dicotomia corpo e espírito do ocidente, presente na primeira definição de cultura, não encontra espaço porque não distingue as forças da natureza, das divindades e do ímpeto humano que dá sentido à vida. “A verdadeira cultura pressupõe uma modificação integral, mágica, do ser no homem, numa união entre corpo e espírito, em que este último é cultivado no corpo que, por sua vez, trabalha o espírito” .
A revolução de Artaud passa por uma transformação na maneira da sociedade compreender a vida, de dicotômica a fusional. O idealismo artaudiano pretende transformações nas estruturas mais profundas, na forma da sociedade viver suas relações, não como indivíduos isolados, mas como um ser integrado ao social. Neste sentido quer uma recuperação das raízes pré-modernas, quando a vida não podia ser compreendida separada da religião. Desta mesma forma, não há para Artaud separação da arte e da vida, pois estas estão envolvidas pela mesma força metafísica. A arte não se encontra como algo a se apreciar, mas como algo a ser vivido.
Ele afirma que “no ponto de desgaste a que chegou nossa sensibilidade, certamente precisamos antes de mais nada, de um teatro que nos desperte: nervos e coração.” .
Através do teatro, Artaud pretende abalar sensorial e espiritualmente o espectador, desenvolver a sua sensibilidade, colocá-lo em um estado de percepção mais apurado para transformar a consciência. Os nervos e o coração não estão dissociados, mas são veículo um para o outro. “Não se separa o corpo do espírito, nem os sentidos da inteligência” . Felício, em seus estudos sobre Artaud, destaca a existência destes dois aspectos no Teatro da Crueldade: um físico, exterior (gesto, imagens, sons), que é direcionado ao impacto pela sensibilidade do público e outro religioso ou filosófico, interior, constituído pelas idéias metafísicas.
Artaud aponta várias formas objetivas para que o teatro atinja os nervos do público, mas sublinha veementemente que, caso haja estabelecimento de uma linguagem teatral fixa, esta arruinará o teatro, pois a cristalização de uma forma consiste, segundo ele, no impedimento do movimento da cultura, do espírito. É o rompimento da linguagem que toca a vida e impede a idolatria.
O espaço é uma exigência do teatro, não apenas por que reúne todas as linguagens, mas por ser um fator que age sobre a sensibilidade nervosa. Artaud não o compreende apenas fisicamente em suas dimensões, mas pretende utilizar seus “subterrâneos” . O espaço é que permite o encontro e o acordo entre os homens. É nele que a cultura, na forma compreendida por Artaud, ocorre, sendo um impulsionador dos deslocamentos e movimentos culturais. A linguagem espacial assume a função idêntica de transgredir o mundo já estabelecido – também por isso o espaço teatral assume uma composição diferente dos espaços teatrais convencionais. Ele abandonando a literatura se propõe a mergulhar na “cultura corpórea-gestual-musical”, ou seja, na cena que é realmente a atividade e acontecimento teatral – manifestação da cultura. O teatro de Artaud quer fazer o espaço e fazê-lo falar, criando poesia no espaço através de imagens materiais, simbólicas.
Embora pareçam utópicas as pretensões de Artaud de transformar a sociedade, seus escritos tiveram grande influência no trabalho e experimentações de inúmeros grupos e encenadores, muitos com desejos semelhantes de revolução social, outros mais preocupados com experimentações estéticas e formais. Fato é, que não há como pensar o teatro de Artaud, sem levar em conta a cultura e a organização da sociedade e de seus valores. Negligenciar isto, é negligenciar as motivações de imersão no universo mítico pretendida pelo teórico, de compreender a função social do teatro. Contrário a muitos encenadores e reformadores do teatro no início do século XX, que tiverem interesses mais estéticos ou ambicionavam interferências políticas mais diretas, Artaud pretendia realizar sua revolução considerando sua época e o contexto no qual está imerso, propondo uma nova ordem, ou talvez seja melhor dizer, retomando uma antiga ordem mítica, ontológica.
No início do século XXI, nos defrontamos com valores sociais e econômicas bastante complexos, que possuem muitas relações com a época de Artaud, e igualmente nos deparamos com os pensamentos deste influente teórico do teatro, permanecendo ainda o desafio, irrealizável em sua totalidade, de um teatro indissociável da vida da sociedade. Gilbert Durand, pesquisador do Círculo de Eranos, afirma que a apreensão da realidade é marcada pela simbolização da vivência, e que os aspectos simbólicos e míticos do homem, não são de forma alguma inferiores ao pensamento racionalizado e à linguagem, justamente por que estão na origem destas, sendo anterior a elas . Artaud, pensando o teatro e a sociedade, caminhava solitário por esta forma de compreender a arte e a vida, e pode ser melhor compreendido quando nos deparamos com outros estudiosos que partilhavam um mesmo olhar, como é o caso de Gilbert Durand e do Círculo de Eranos. Estes estudos possuem diversos pontos em comum com as propostas artaudianas, fornecendo uma interessante epistemologia para o estudo de Artaud.
in espacoacademico.com.br

Milhares de Pessoas em Defesa dos Direitos dos Imigrantes


Alguns milhares de pessoas desfilaram na tarde deste domingo em Lisboa, em defesa dos direitos dos imigrantes. A parada mobilizou dezenas de organizações que de alguma forma intervêm na problemática da imigração e atravessou o centro de Lisboa, entre o Martim Moniz e a Praça Luís de Camões. "Sem Direitos Iguais Todos Perdemos" era o lema da manifestação.

Várias dezenas de organizações com intervenção em áreas relevantes relacionadas com a imigração aderiram ao evento e transportaram faixas com frases de reivindicação. Os direitos específicos das mulheres imigrantes,o direito de voto, a lçegalização dos indocumentados ou a exploração laboral foram temas presentes neste evento.
A manifestação tinha sido convocada por cerca de 30 associações e pretendia também chamar a atenção para a situação de 60 mil pessoas que presentemente aguardam a sua regularização em Portugal.

sábado, 14 de março de 2009

Se nunca ouviu falar de transfobia... leia este artigo



Três anos depois da morte de Gisberta, Bruno Horta pergunta como é ser transexual em Portugal.

“Não importa que aceitem ou não a minha transexualidade, eu sempre fui mulher, sempre me senti assim, nunca consegui sentir que fazia parte de um mundo masculino. Sou e serei, até ao fim dos meus dias, uma mulher”. Assim escrevia em 2004 Eduarda Santos, 50 anos, transexual e autora do blogue Transfofa – das poucas pessoas em Portugal que dão a cara para falar sobre este assunto.
Três anos depois do brutal homicídio da transexual Gisberta por um grupo de adolescentes, no Porto, a Time Out encontrou-se com Eduarda Santos em Almada, onde nasceu e vive. E quis saber como é a vida de uma transexual hoje no nosso país.
Esclareça-se que Eduarda Santos não é travesti, não faz espectáculos de transformismo, não usa roupas femininas por fantasia (cross-dressing). É uma mulher comum, apesar de ter nascido homem. Tem uma filha de 26 anos, com quem vive. Foi casada, trabalhou como ajudante de despachante numa alfândega do Terreiro Paço e como segurança numa empresa de Almada. Ficou desempregada por duas vezes, mas aproveitou para fazer dois cursos de informática que hoje lhe possibilitam mexer-se com destreza na internet e nos blogues.
Tinha 43 anos e a filha já criada quando decidiu iniciar a mudança de sexo. “Jurei que quando voltasse a trabalhar já não seria o Eduardo, mas a Eduarda”, conta. Hoje é a Eduarda, mas não voltou a encontrar trabalho. Esse é o principal drama dos transexuais.
A mudança de sexo em Portugal é um processo “longo, chato, caro e por vezes humilhante”, diz. Tem pelo menos quatro fases.
Primeira: avaliação por psiquiatras e psicólogos, apenas nos Hospitais da Universidade de Coimbra, no Júlio de Matos e em Santa Maria – processo que pode durar mais de um ano e durante o qual, acusa Eduarda Santos, muitas pessoas são instigadas pelos médicos a desistir.
Segunda: assunção, por um ano, do papel de género para o qual se quer mudar e início dos tratamentos hormonais.
Terceira: nova avaliação e novo relatório que, se coincidir com o primeiro, dá origem a um relatório final que é enviado à Ordem dos Médicos – que, em princípio, é obrigada a autorizar a cirurgia de mudança de sexo. “Depende do grau de transfobia do bastonário”, critica Eduarda. Por fim, feita a operação, é preciso pedir autorização a um tribunal para alterar a documentação, o que demora meses ou anos. Aspecto positivo: o tratamento hormonal e a cirurgia podem ser totalmente comparticipados pelo Estado.
Eduarda está na segunda fase do processo, mas não concorda com a espera de um ano. “A sociedade portuguesa não está preparada para aceitar uma pessoa que se apresenta com um género e tem documentação de outro género. O Estado, ao fazer essa exigência e não dando protecção adequada às pessoas durante esse tempo, está a contribuir para que elas não arranjem emprego e sejam socialmente humilhadas.”
Isto sendo certo que há os que não querem fazer cirurgia, mas apenas o tratamento hormonal.
A esses, a lei portuguesa trata-os como párias e não os deixa mudar de identidade.
O quadro já é dramático, mas Eduarda Santos, faladora e convicta, acrescenta outro problema: a alegada displicência com que os transexuais são tratados por algumas associações LGBT, que ela prefere não nomear. “Basta pensar no que foi feito quando a orientação sexual passou a ser motivo de não discriminação no artigo 13. º da Constituição [em 2004]. A ideia de base era incluir a orientação sexual e a identidade de género. Mas os políticos devem ter achado que isso era de mais e negociaram: entra a orientação sexual e vocês calam-se com o resto. E as associações que se dizem LGBT aceitaram isso.”
Como mais vale uma proposta do que um protesto, Eduarda deixa a sua: “Falta em Portugal uma lei de identidade de género como a que existe em Espanha, para nos dar garantias de protecção.”
timeout.sapo.pt
terça-feira, 3 de Fevereiro de 2009

Duas Mulheres Fantásticas - Lara Crespo e Eduarda Santos

A 31 de Janeiro deste ano saiu um número da Revista Única, do Jornal Expresso, dedicada à Coragem.
Eduarda Santos e Lara Crespo foram entrevistadas para essa reportagem.
Aqui fica o link para a mesma.CLIQUE AQUI

Grande manifestação da CGTP contra as políticas do governo

Com o lema "Mudar de Rumo, Mais Emprego, Salários e Direitos", a CGTP encheu a Avenida da Liberdade e o seu líder diz que juntou mais de 200.000 pessoas e que foi a "maior manifestação deste tipo que tivemos em Lisboa". Carvalho da Silva fez um discurso de mobilização contra o desemprego e por "políticas que ponham a economia ao serviço do desenvolvimento do país".Veja a reportagem em vídeo e fotogaleria.
Ler mais e comentar...
in Esquerda.net

Não Monogamia não é Poligamia

A propósito da crónica de Manuel Joao Ramos "O fim do casamento, poligamia e incesto"

http://sol.sapo. pt/PaginaInicial /Opiniao/ Interior. aspx?content_ id=127295

"A consequência lógica da extensão do âmbito legal de forma a abarcar os interesses homossexuais, em nome do direito à não discriminação de opções individuais ou culturais, é a abolição dos princípios de monogamia e de proibição de incesto. "

Infelizmente mais á frente faz o salto mortal de misturar nao-monogamia com poligamia:

"A poligamia carece de fundamento normativo no Ocidente por não ser suportada por preceitos religiosos, ao contrário da lei islâmica, e exprime uma inadmissível assimetria estatutária entre homens e mulheres. "



Pequena observacao:

A poligamia, é necessáriamente nao-monogâmica, mas a negação da monogamia, ou o seu contrario nao é necessariamente apenas a poligamia. Há outras coisas nao monogâmicas que não são a poligamia.

É importante, nao apenas por amor da verdade, mas para entrar nestas discussoes com as melhores armas, e principalmente nos tempos que se aproximam e suas discussões sobre o casamento civil, chamar os bois pelos nomes e não misturar não monogamia com poligamia. Ha todo um leque de possibilidades, consensualidade, etc por detrás destas palavrinhas nada inocentes.


E, for completeness,

Indo um pouco mais longe, há muitos mais modelos, modernos, contemporâneos e antigos que têem sido praticados ao longo de vários séculos no Ocidente, simplesmente sem a ribalta que o mundo moderno poe em tudo. Recomendo investigar, por exemplo, as unioes homossexuais abencoadas pela Igreja até ao seculo XII (referência "Born to be Gay" William Naphy von Tempus) na peninsula Ibérica, os Affrérements ou ainda as experiências familiares e sociológicas das várias Comunas.

Mesmo o simplesmente ser solteiro ja foi uma coisa mais "natural" ou vista como natural do que nos dias de hoje, em que um exército de socio-pedagogos nos querem corrigir o tratamento desviante se tivermos a fantasia de estar Quirky Alone... Mas vou parar por aqui, porque estou a divagar e nao quero que o "meu ponto" se perca....

Ver mais comentários ao artigo aqui:
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Opiniao/Interior.aspx?content_id=127295&tab=community

in Our Laundry List

Video Trans

Raquel Freire - Rui Rio quis controlar o meu filme

Ela filma, fotografa, escreve. Estudou música, dança, teatro, pintura. Mas Raquel Freire, 35 anos, é essencialmente uma activista.
Onde houver mundo para mudar, ela vai lá dar a mão. Vai provocar.
Devolvo as perguntas do filme que estreou este ano, “Veneno Cura”: “Quando perde tudo o que há para perder, o que a faz continuar?”O amor pelas pessoas.
“O que faz para sobreviver à mais terrível das dores?”
Como se sobrevive? Com amor.
Vê-se como “cineasta obscena”?Vejo-me como uma artista que provoca os outros. Tem um fetiche com o Porto ou filma quase sempre no Porto só porque em Lisboa é mais caro? Tenho fetiches com pessoas como tenho com espaços. Com o rio, a cor, as casas, a luz do Porto. É a minha memória afectiva.É mais fácil filmar no Porto do que viver no Porto?[Risos] Não é fácil filmar no Porto, mas apesar de tudo é mais fácil filmar do que viver. Vivendo para o cinema, viveria numa cidade sem Cinemateca?Já vivi muito tempo. O cinema, hoje, chega por outras formas: há Internet, DVD. Dramático foi ter vivido, como vivi até aos 23 anos, em cidades que não tinham Cinemateca nem nada. Mas isto não retira a legitimidade ao Porto de querer ter uma Cinemateca. Teve ajuda da Câmara para filmar?Tive uma reunião com a minha directora de produção e fui recebida por uma coisa chamada Porto Film Comission. Deram-nos alguma ajuda logística, sim. Depois, o presidente da Câmara quis controlar o resultado do filme, saber se falava bem ou mal da cidade...E o que fez?Disse que, obviamente, o filme não estava disponível para nenhum tipo de censura.Apesar disso, sente-se privilegiada por ter tido atenção de um autarca que diz pegar logo na máquina de calcular quando lhe falam de cultura?Rui Rio deve ser muito infeliz. Vamos fazer um exercício: consegue imaginar a vida sem contar histórias aos outros, sem música, sem teatro, sem livros, sem desenhos, sem nenhuma manifestação cultural? É uma vida de escravatura. Esse homem deve ser muito infeliz.A Porto 2001 continua a dever-lhe cinco mil euros?[Risos] Continua. Mas não são euros, são contos: cinco mil contos. Tive que fechar a produtora. Em Outubro do ano passado casou com uma mulher em frente ao Parlamento. Foi uma encenação ou uma declaração de interesses?Foi uma acção política contra a homofobia. Espero que seja finalmente legitimado o direito ao acesso ao casamento civil para pessoas do mesmo sexo. Estamos a falar de igualdade de direitos fundamentais. Daqui a uns anos, a injustiça actual vai ser tão ridícula como discriminar raças diferentes. O racismo hoje é crime. Na sequência dessa acção política, disse que imaginou o seu pai a dizer: “No meio desta crise económica como é que vêm defender os gays?” É isso que pensa a esmagadora maioria dos portugueses?O meu pai nunca disse isso [Risos]. Houve um equívoco. Quem o disse foi uma pessoa da idade dele que estava lá. Há uma certa Esquerda bem pensante que acha que os direitos fundamentais são só para eles. E não são. São fundamentais porque são para todos. Se um homem vai na rua e é apedrejado porque gosta de homens e não de mulheres, se perde o emprego por causa disso, isto é fundamental, é para a vida dele, é essencial para a sobrevivência. A José Sócrates basta-lhe propor a legalização do casamento homossexual para ter o seu voto; votaria nele independentemente disso; ou nem isso chega para votar nele?Ainda não decidi. Mesmo. “Querem-nos precários, descartáveis e fáceis de despedir”. A frase é sua. É o que melhor define a sua geração?Não. Define a forma como o sistema nos vê. Somos uma geração de sobreviventes, estamos a ganhar um lado de baratas, que é o bicho que sobrevive a tudo: ao terrorismo, à crise, à precariedade, ao desemprego, às doenças...Disse que ainda temos aquela visão judaico-cristã que coloca de um lado Maria, a virgem santa; e do outro Madalena, a pecadora, a sexual. Quem representa melhor estes dois lados em Portugal?[Silêncio] Maria será a Manuela Ferreira Leite; Madalena é o Francisco Louçã. Vêem o mundo de formas completamente opostas.
Ainda tem tiques de “generala vermelha”, como diziam na Universidade de Coimbra?
Deixou de ser defeito para passar a ser feitio. Continua a viver sem saber como vai sobreviver no próximo mês?Não sei como vou pagar a escola do meu filho este mês. Fez Direito para "entender as regras do mundo". Entende estas regras?Entendo as regras humanas, mas não as quero seguir. Conscientemente. Em Portugal há esta ideia: “Somos pobrezinhos, humildes e honradinhos.Se não tens dinheiro, não gastas”. Eu não tenho, mas acho que devo dar a melhor educação ao meu filho, que custa dinheiro. Não sou a única a ter salários em atraso.
in JN

Fórum Alternativo da Água defende pessoas contra a privatização

Em Março vai ter lugar em Instambul, na Turquia, o 5º Fórum Mundial da Água onde se vão discutir as políticas da água no mundo. O Fórum estará dominado pelos governos e empresas privadas, sendo o ponto principal da agenda a privatização dos recursos e do acesso à água. Contra este primado e em defesa da água pública e da gestão sustentável dos recursos vai ter lugar um Fórum Alternativo que junta os movimentos sociais em prol das pessoas e não dos lucros. Sabe mais aqui .

MANIFESTAÇÃO PELOS DIREITOS DOS/ AS IMIGRANTES

Dazkarieh - Nangbar (live)

Frank Zappa - Stairway To Heaven

Morphine - The Saddest Song

Lou Reed - Sweet Jane

ORCHESTRA DI PIAZZA VITTORIO

Nirvana - Come As You Are Live