sexta-feira, 20 de março de 2009

O Papa, a África e a Sida

Cerca de 22 milhões de pessoas estão infectadas na África Subsaariana, onde morrem três quartos das vítimas de sida no mundo inteiro – lê-se num telegrama da Lusa. Há muito que se conhece a tragédia que o desgraçado continente sofre. Conhecem-se milhões de infectados, as crianças órfãs e outras epidemias que dizimam países com fome, doenças, ditaduras e corrupção, que se encarregam de tornar infelizes os que aí nasceram.
Para Bento 16, 22 milhões de miseráveis não passam de almas que aguardam baptismo e o bilhete para o Paraíso, mas para quem não tem empedernido o coração pela fé, para quem sente alguma solidariedade com a dor, para quem desespera com o sofrimento, não pode tolerar-lhe que despreze a distribuição de preservativos como medida acertada.
Por mais frio e insensível que a sotaina o tenha tornado, por mais ódio que a castidade lhe tenha instilado, por maior cegueira a que as leituras pias o tenham conduzido, não pode dizer às pessoas condenadas para não se protegerem e aos jovens enamorados para praticarem a castidade.
A viagem de um dignitário religioso que a propaganda se encarrega de apresentar como sábio e a ignorância tribal de acreditar como bondoso, em vez de ajudar à melhoria dos níveis sanitários, contribui para aumentar a mortalidade.
Não sei em que consiste a terapêutica prescrita pelo autocrata: “um despertar espiritual e humano” e a “amizade pelos que sofrem”. Sei que a distribuição de preservativos é – contrariamente à mentira que afirma – a solução mais comprovada cientificamente e a de resultados mais sólidos na contenção da dramática epidemia.
Assassino não é apenas aquele que dispara a arma para causar a morte, é também o que usa a ignorância para impedir a vida.
carlos esperança in ponteuropa.blogspot.com

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